A romantasia é um dos subgêneros mais fascinantes e ascendentes da literatura fantástica contemporânea. Definida pela fusão entre o romance – com seus dilemas emocionais, paixões e amadurecimento – e os cenários mágicos da fantasia, a romantasia assume papel central no mercado editorial atual, quebrando recordes de vendas e dominando clubes de leitura, além de alimentar discussões em redes sociais e podcasts.
Em cenários onde dragões voam, reinos disputam poder e criaturas sobrenaturais coexistem com humanos, o amor funciona não apenas como adereço, mas sim como motor emocional: impulsiona a narrativa, aprofunda personagens, estrutura conflitos e motiva decisões que desafiam – e às vezes subvertem – o destino dos protagonistas.
Ao entrelaçar o desenvolvimento de relações e sentimentos com universos fabulosos, romances de fantasia e amor proporcionam grandes catarses, exploram temas universais e espelham vivências reais em tramas extraordinárias, criando uma conexão profunda com leitores de todas as idades.

Modos de incorporação do amor em Romances de Fantasia
Relações como motor da história
Em muitos títulos do gênero, o romance não apenas compõe a narrativa, mas a conduz. Decisões tomadas por amor podem motivar jornadas épicas, dilemas entre dever e desejo, pactos e traições. Um exemplo marcante é a série “Corte de Espinhos e Rosas” (Sarah J. Maas), onde o relacionamento entre a caçadora humana Feyre e as intrigas da corte Fae desencadeiam aventuras, guerras e alianças improváveis.
Elemento humano e identificação
Mesmo em universos mágicos, conflitos amorosos, vulnerabilidades, dúvidas e amadurecimento são universais. O amor oferece uma ponte emocional para o leitor: a identificação com os dilemas dos personagens torna os mundos fantásticos mais acessíveis, profundos e impactantes.
Profundidade e complexidade dos personagens
Relacionamentos românticos aprofundam camadas dos protagonistas e coadjuvantes, revelando forças ocultas, fraquezas, inseguranças e motivações genuínas. Essa multidimensionalidade transforma simples heróis em figuras inesquecíveis, com trajetórias de amadurecimento emocional interligadas à narrativa fantástica.
Finais otimistas e suas funções
Frequentemente, busca-se um final feliz, mas isso pode ser subvertido ou transformado conforme os desafios e amadurecimento dos personagens. O romantismo desempenha papel de esperança e recompensa após conflitos — como em “Divinos Rivais” (Rebecca Ross), no qual paixão e rivalidade se entrelaçam até a redenção dos protagonistas.
Conflitos e desafios singulares dos mundos fantásticos
Elementos mágicos, políticas de universos ficcionais e a presença de criaturas e forças sobrenaturais criam obstáculos únicos para o romance: separações entre espécies, pactos sobrenaturais, guerras mágicas e dilemas morais ampliam conflitos tradicionais do romance para novas dimensões (vide “Filhos de Sangue e Osso”, Tomi Adeyemi).
Exploração de temas universais
Temas como lealdade, sacrifício, confiança, consentimento e amadurecimento ganham camadas ao serem inseridos em universos mágicos — seja sob a ótica do protagonista que desafia leis sobrenaturais por amor, ou através de relações cuja força desafia a própria ordem do mundo fantástico.
Subgêneros e variáveis de Romantasia
Diferenças para outros subgêneros
- Romantasia:romance é o fio central, com foco intimista nas relações românticas entre protagonistas.
- Alta Fantasia:universos totalmente inventados; estrutura épica tradicionalmente com menos foco no romance central.
- Fantasia Urbana:elementos mágicos em cenários contemporâneos e urbanos, explorando romances em contextos modernos (“Promessas Vazias”, Lexi Ryan).
- Aventura Épica:jornadas coletivas, batalhas e missões podem incluir, mas não priorizam, relações amorosas.
Híbridos em destaque
- Fantasia Dark com Romance:títulos que mesclam moralidade ambígua, paixão proibida e atmosferas sombrias.
- Fantasia LGBTQIA+:exemplo: “O Priorado da Laranjeira” (Samantha Shannon), com protagonistas lésbicas desafiando tabus sociopolíticos.
- Young Adult (YA):temas de autodescoberta e primeiros amores em meio a aventuras fantásticas, como em “Luzes do Norte” (Giulianna Domingues).
Títulos de Destaque e Autores Referenciais
Segue uma lista de romances de fantasia e amor fundamentais, com comentários sobre sua importância:
Título | Autora(o) | Relevância | Notas/Prêmios |
Corte de Espinhos e Rosas | Sarah J. Maas | Sucesso mundial YA | Série best-seller e referência do subgênero |
Divinos Rivais | Rebecca Ross | Nova sensação internacional | Narrativa epistolar mágica |
Luzes do Norte | Giulianna Domingues | Destaque nacional | Fantasia YA com mitologia nórdica no Brasil |
Promessas Vazias | Lexi Ryan | Popularidade internacional | Fantasia urbana e intrigas políticas |
Filhos de Sangue e Osso | Tomi Adeyemi | Impacto global/diversidade | Prêmios YA, referência ao afro-fantástico |
O Priorado da Laranjeira | Samantha Shannon | Fantasia adulta feminista/LGBT | Prêmio Lambda Literary, presença marcante |
As Crônicas de Nárnia | CS Lewis | Clássico atemporal | Amor fraternal e alegorias religiosas |
A Bússola de Ouro | Filipe Pullman | Referência YA | Trilogia premiada, temas filosóficos |
Quarta Asa | Rebeca Yarros | Tendência 2024/2025 | Protagonista com síndrome rara, inovação |
O Trono de Jasmim | Tasha Suri | LGBT/Multicultural | Cultura indiana e protagonismo feminino |
Autor nacional em destaque: Giulianna Domingues (“Luzes do Norte”), por trazer mitologia nórdica para o contexto brasileiro, exemplificando a crescente força da romantasia nacional.
Subgêneros secundários, tendências e diversidade temática
- Romantasia Dark:narrativas sombrias e moralmente complexas, romances em meio a guerra, vingança ou traição.
- LGBTQIA+:“O Priorado da Laranjeira” e “O Trono de Jasmim” representam relações homoafetivas e múltiplas identidades de gênero, ampliando a representatividade.
- Protagonismo Feminino:protagonistas que desafiam papéis tradicionais – vide Feyre, de Sarah J. Maas, e as guerreiras de “Quarta Asa” (Rebecca Yarros).
- Abordagens Multiculturais:filhos de Sangue e Osso (Tomi Adeyemi) inspira-se na cultura iorubá; “O Trono de Jasmim” (Tasha Suri), na cultura indiana.
Inovações recentes incluem protagonistas com condições médicas reais (“Quarta Asa”), ampliando o debate sobre acessibilidade e inclusão em universos fantásticos.
Recomendações: lista estruturada dos títulos mais famosos
Corte de Espinhos e Rosas (Sarah J. Maas)
- Subgênero:Alta fantasia romântica
- Público-alvo:YA/Adultos
- Diferencial:Releitura de contos de fadas, forte protagonismo feminino, universo detalhado.
Divinos Rivais (Rebecca Ross)
- Subgênero:Fantasia histórica
- Público-alvo:Adultos/Jovens
- Diferencial:Amor e rivalidade em cenário mágico de guerra entre deuses, cartas mágicas.
Luzes do Norte (Giulianna Domingues)
- Subgênero: Fantasia urbana YA
- Público-alvo:Jovem Adulto
- Diferencial:Mitologia nórdica adaptada ao cenário brasileiro.
Promessas Vazias (Lexi Ryan)
- Subgênero:Fantasia urbana com romance
- Público-alvo:New Adult/YA
- Diferencial:Relação entre anjo e humana, política e mistério.
Filhos de Sangue e Osso (Tomi Adeyemi)
- Subgênero:Fantasia épica afrofuturista
- Público-alvo:YA
- Diferencial:Inspirado em mitologia africana, temas de opressão e resistência.
O Priorado da Laranjeira (Samantha Shannon)
- Subgênero:Alta fantasia LGBTQIA+
- Público-alvo:Adulto
- Diferencial:Intrigas de corte, dragões, romance feminino, prêmios LGBTQIA+.
As Crônicas de Nárnia (C.S. Lewis)
- Subgênero:Fantasia clássica
- Público-alvo:Infantojuvenil
- Diferencial:Amores familiares, alegorias religiosas, universalidade.
A Bússola de Ouro (Philip Pullman)
- Subgênero:Fantasia steampunk
- Público-alvo:Jovem/Adulto
- Diferencial:Filosofia, crítica à religião, mundos paralelos.
Quarta Asa (Rebecca Yarros)
- Subgênero:Alta fantasia romântica innovadora
- Público-alvo:YA
- Diferencial:Protagonista com síndrome de Ehlers-Danlos, inclusão de diversidade funcional Referência.
O Trono de Jasmim (Tasha Suri)
- Subgênero:Fantasia multicultural LGBT+
- Público-alvo:Adulto
- Diferencial:Ambientação indiana, protagonismo lésbico, política e poder.
Dicas para análise ou criação literária
- Construção de personagens: invista em motivações e backgrounds profundos, fuja de arquétipos rasos (é fácil cair no clichê do “herói apaixonado” ou “mocinha indefesa”).
- Arquétipos originais: subverta expectativas (anti-heróis, amantes rivais moralmente ambíguos, relações não convencionais).
- Ambientação mágica como potência: use elementos fantásticos (maldições, pactos, ordens mágicas) para criar dilemas inéditos e potencializar o drama do romance.
- Evite clichês: questione fórmulas prontas. Paixões instantâneas, triângulos amorosos banais ou finais excessivamente românticos deixam de surpreender se não bem trabalhados.
- Diversidade e inclusão:Incorpore experiências LGBT+, questões de acessibilidade, etnias e culturas variadas para enriquecer e ampliar o público da obra.
- Critérios críticos de avaliação: observe se o romance realmente estrutura a narrativa, se há verossimilhança emocional mesmo em mundos fantásticos, e se o desenvolvimento evolui ao longo da obra.
A importância estratégica do romance nos mundos fantásticos
O romance em mundos fantásticos transcende o entretenimento: é ferramenta de humanização, identificação, catarse e transformação. Obras de romantasia estimulam novos olhares sobre questões contemporâneas, fomentam a discussão sobre diversidade, empoderamento e amadurecimento emocional, inspirando leitores e escritores a criar experiências literárias cada vez mais ricas e inovadoras.